domingo, 29 de maio de 2016

Acredito piamente que só sou ator porque me é complicadíssimo 'ser natural' na vida. É como se a vida me exigisse um fingimento do qual não consigo dar conta. Uso a artificialidade do palco para fazer-me consciente da minha inadequação, e aí sim, dobrando os fingimentos, consigo extravasar uma certa potência antes acumulada e reprimida. Nesse sentido, o teatro me é terapêutico ao ensinar que tudo, absolutamente tudo, é mentira. E que 'ser natural' é simplesmente um 'ser mentiroso' sem estar consciente de que mentimos. E o teatro também me é um tremendo fardo, porque a consciência é um estado de alerta cujo preço a ser pago traduz-se numa grande dose de sofrimento. O que é preferível: mentir sem saber que mentimos, ou mentir de posse das artimanhas do mentiroso? Já não é mais possível escolher. 

Ser ou não ser, eis a questão... (já respondida!)

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