sábado, 26 de dezembro de 2015

Acho os nossos atores maravilhosos. Digo os nossos atores de teatro. Sem um pingo de ironia. Acho os atores de meu país uns dos melhores atores do mundo. A miséria misturada ao calor nos dá uma tamanha dose de descompromisso com tudo que o que sobra é uma audácia despudorada, irresponsavelmente corajosa. Somos quase a reprodução de uma trupe de molambentos medievais, comediantes desesperados em busca de um lugar para montar nosso palquinho mequetrefe. Mambembes atrás de um bendito prato de comida que justifique o suor despendido. Empurram-nos para a corda bamba e desde cedo aprendemos na marra a sambar para não cair de vez. E quando caímos é só para voltar lá no alto de onde despencamos. Indo assim, aos trancos e barrancos. Essa ausência de tudo é o que nos torna espertos, talentosos e humildes na medida do aceitável. Acho esses atores gelados da civilização polar um porre. Principalmente esses atores da seita stanislavskiana do tal do MÉTODO. E é quase uma seita universal por aqui. São quase sempre atores afrescalhados, cheios de não-me-toques, quase possível inalar um perfume de diva afetada que brota de seus cangotes instruídos. Carregam agentes a tiracolo que os agenciam feito donzelas necessitadas de um lencinho de seda bordada arremessado ao chão para que atravessem a poça suja... Ah não! Gosto dos meus atores. Atores que são uns dos melhores atores do mundo... (Com a devida exceção feita aos atores ingleses, esses sim os filhos legítimos dos mais brilhantes tablados de ontem, hoje, e sempre).



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sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Não acho que ser artista tenha a ver com habitar uma sensibilidade aflorada. Ao menos essa sensibilidade de que tanto advogamos como sinônimo de aptidão para sentir e, desse modo, transmitir a humanidade que há no sentimento. Se os outros sentem é porque é natural da vida sentir. Mas tenho convicção de que o artista, não sendo como os outros demais, tem o dever de não sentir nada. Ou, então, sentir que nada sente. E pensar. Pensar sim, evidentemente, deve ser primordial ao artista. A qualquer artista. O pesar e o amor do artista devem ser fruto do ato de pensar, nunca do de sentir. Porque é o pensamento que comunica. E é função do artista comunicar. O sofrimento, o sentimento, é coisa individual, afeita ao claustro, nada adequada ao estar diante de outros para lhes dizer algo. E o artista é sempre esse: o que está diante de alguém pronto para dizer algo. O não poder sentir, e o habitar a capacidade - ou a infelicidade - de nada sentir, aí está a habilidade - e o fardo - do verdadeiro artista. O resto, parece-me, é exercício gratuito de vaidade, de quem sente só para dizer a si próprio que está sentindo.

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'(...) Eu não sei se o mundo é triste ou mau nem isso me importa, porque o que os outros sofrem me é aborrecido e indiferente. Logo que não chorem ou gemam, o que me irrita e incomoda, nem um encolher de ombros tenho - tão fundo me pesa o meu desdém por eles - para o seu sofrimento. Mas eu quero crer que a vida seja meio luz meio sombras. Eu não sou pessimista. Não me queixo do horror da vida. Queixo-me do horror da minha. O único fato importante para mim é o fato de eu existir e de eu sofrer e de não poder sequer sonhar-me de todo para fora de me sentir sofrendo. Sonhadores felizes são os pessimistas. Formam o mundo à sua imagem e assim sempre conseguem estar em casa. A mim o que me dói mais é a diferença entre o ruído e a alegria do mundo e a minha tristeza e o meu silêncio aborrecido (...) Nem mesmo posso sentir o meu sofrimento como sinal de grandeza . Não sei se o é. Mas eu sofro em coisas tão reles, ferem-me coisas tão banais que não ouso insultar com essa hipótese a hipótese de que eu possa ter gênio. (...)'

F. Pessoa



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quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Atores não deveriam aparecer nos cartazes e anúncios de seus próprios espetáculos. Atores não deveriam dar entrevistas sobre seus próprios espetáculos. Atores não deveriam poder sair por aí dizendo aos quatro ventos que são atores a trabalhar em determinado espetáculo. A desculpa de que é por esses meios que se divulga um espetáculo para que o público nele compareça é frágil frente ao preço que se paga. Eleva-se o ego do ator aos patamares rarefeitos de uma individualidade burra, cegando-o quase na totalidade das vezes para aquilo que de fato representa o seu sagrado ofício: a obra estética. Resguardemos o ego do exibicionismo declarado para quando o ator subir ao palco! Aí sim ele pode ser exibido, histérico, altissonante. Porque aí o que está em evidência - e é dever do ofício do ator agir assim - é a defesa estética de uma obra de arte. Nada mais importa do que o esforço para erguer as bases poéticas de uma obra. Ocorre que o ator, convocado sempre a ser ator fora de cena, torna-se mais evidente fora do que dentro de cena, e é ele encarregado das funções mais variadas que nada competem para a defesa de uma obra estética. O ator, então, carrega um manto de agente político a serviço de uma demanda política que justifique a existência da obra poética fora dos domínios próprios da obra poética. E, na verdade, nada, absolutamente nada, deve legendar o sentido de existência de uma obra poética senão o seu valor poético. Se a poesia é ruim é porque a poesia é ruim, não porque as implicações ideológicas fizeram dela uma coisa ruim. E, por outro lado, nada é urgente demais para ser visto e encenado porque fora da cena a conjuntura do mundo pede que algo seja visto e encenado. Desde que o assunto seja o homem - o que engloba todas as obras - tudo e qualquer coisa é urgente e necessário. Jogar luz nessa razão é, mais uma vez, fazer de tudo para justificar uma coisa que não tem justificativa senão o seu próprio direito de existir: a obra de arte por ela própria, e só por ela própria. Então, continuando, o ator vira uma peça de propaganda das demandas sociais, das lacunas educacionais, da emergência do que precisa ser dito porque algo não anda bem no meio público. Ou, então, convencido de que ele é importante - ou mesmo inconsciente desse fato ainda que continue agindo da mesma forma -, o ator mostra-se inteiramente em seu charme vaidoso na expectativa de que os outros o admirem em seu ato de ousadia e coragem para levar ao palco aquilo que exige coragem para ser encenado. E mesmo que o resultado poético da cena seja um desastre não é isso o que importa. Muitas vezes o desastre não é matéria de reconhecimento de parte nenhuma. Importa o ator, um bravo guerreiro que enfrenta a tudo e a todos para exibir-se em seu ato de ousadia e coragem. A obra de arte é um mero pretexto para qualquer coisa que justifique a sua existência, exceto ela própria. E o público comporta-se da mesma maneira burra: aplaudindo o que é ruim sem saber identificar o que é ruim já que acostumou-se a não olhar para a obra de arte. É o entorno que passa a contar, as fronteiras daquilo que não diz respeito a obra de arte. Nosso tempo é esse tempo: um tempo de periferias. Como se o que fizesse os jogadores entrar em campo não fosse talento algum para o jogo senão a habilidade empresarial para o marketing. E os torcedores também, afeitos por coisa nenhuma, engolem felizes a falta de habilidade dos que desfilam em campo.

Sendo toda e qualquer arte matéria do inútil, é preciso mais intransigência e menos generosidade para se lidar com as coisas que são inúteis. É preciso muito mais rigor para saber identificar o que é uma obra de arte de valor. É preciso sumir com os atores. Implodir seu império. Em favor da obra de arte.

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'(...) Pois então, ó Augusto, eu sei que o homem deve cultivar a modéstia, e espero ter logrado manter-me humilde. Mas, com relação à Arte, sou presunçoso, se assim queres chamá-lo. Reconheço que o homem deve arcar com quaisquer deveres, pois só ele é portador de deveres, mas sei que dever algum pode ser imposto à Arte, nem deveres úteis aos Estado nem outros; do contrário, apenas a converteríamos em antiarte, e se os deveres do homem, como ocorre atualmente, estão em outro lugar que não na Arte, somente lhe resta a alternativa de abandonar a Arte, até por respeito a ela... Justamente essa época exige do indivíduo a mais intensa modéstia, e na mais intensa modéstia, e ainda mais, com apagamento do próprio nome, deve ele servir, como um dos anônimos servidores do Estado, como soldado ou de outro modo, não, porém, com obras poéticas sem consistência, que são apenas arrogante antiarte, enquanto pretenderem servir o bem do Estado através da sua supérflua existência individual... (...)'. Hermann Broch. A Morte de Virgílio.



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terça-feira, 22 de dezembro de 2015

É preciso criar um estilo, sumir atrás de um estilo, engessar-se, deixar de ser natural, eclético e maleável. Uma máscara! Dei ao meu rosto o molde para uma máscara. Uma que cabe no rosto que tenho, só no meu e no de mais ninguém. Virei personagem de mim mesmo. Sou eu. Mas já não sou mais. Diante disso, posso tudo! Assumo as consequências de haver me esquecido, daquela época quando eu era tudo e todos ao mesmo tempo. Agora sou só um. Duro. Inquebrantável. E é por isso que sou infinito.


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sábado, 19 de dezembro de 2015

Uma das maiores bênçãos do teatro é o mistério de não ver o ator nem antes nem depois do espetáculo. Nunca entendi quem se dispõe a fazer plantão na porta do teatro para flagrar o ator que chega, ou aguardar o ator que vai embora depois de haver concluído o seu trabalho. Como espectador de teatro, acho a coisa mais decepcionante do mundo testemunhar o ator em seu estado natural de ator. Atores de teatro são, em via de regra, desinteressantíssimos em seu traje à paisana. Como ator, acho a coisa mais constrangedora do mundo encontrar quem queira conversar sobre qualquer coisa depois de encerrada a peça. Nunca entendi os atores que tratam o hall do teatro com tanto ou mais afã do que o instante em que estão debaixo dos refletores. Nunca entendi essa legião de fãs anônimos que fazem fila para barrar o ator na saída do teatro.

Nos teatros, deveria existir uma saída de emergência por trás do prédio que evitasse qualquer espécie de assédio, ou qualquer espécie de voluntarismo forjado e mentiroso do ator. Ator e espectador nunca deveriam se encontrar após o término de qualquer espetáculo. Cada qual que suma um da vista do outro.


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quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Um bom texto de teatro se mastiga. É exatamente isso! O bom texto de teatro é feito para ser mastigado. Sua força é uma força que está na mandíbula do ator. O bom texto de teatro não permite trabalhos ulteriores fora lidar com a forma mastigável de suas palavras. Só o texto ruim de teatro imagina um antes ou um depois da palavra escrita. Um passado que justifique a palavra no instante em que ela existe para ser dita. O bom ator deve necessariamente ter mandíbulas adequadas ao mastigar da boa palavra contida no bom texto de teatro. Toda sorte de psicologias, abstrações, estudos de estados internos afundam diante da palavra que não é outra coisa senão matéria mastigável. Basta mastigá-la. Basta cuidar bastante bem da sua dentadura. A arcada dentária é infinitamente mais valiosa que todas as suas revoluções íntimas e sentimentais...



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segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Deveriam dar importância às personagens, não aos atores. Mas o grande acontecimento do século é o reinado dos atores sobre as personagens. O hall do teatro é mais importante do que o palco. Quando as luzes se apagam é que elas se acendem de fato! Um depoimento de um ator é disputado a tapa, ainda que não haja nada o que dizer, ainda que o ator seja o exemplar do que há de mais sentimentaloide e tapado nesse mundo de lágrimas e verbos vazios. Ainda que o ator advogue o contrário - há sempre um discurso emocionado de entrega à personagem - as personagens são, de fato, acessórios, quando muito um atributo de exponenciação do charme do ator. A boa personagem, nesses dias, é aquela que não recusa o que o ator já tem, que não o contraria em seu jeito bastante pessoal de ser ator. Ela, a personagem, é que é moldada ao ator, e não o inverso. É quase uma etiqueta de grife, um terninho chique cortado e costurado na medida do modelo. Esse discurso tão em voga de 'entrega à personagem' é a mais pura balela sentimental para justificar o protagonismo do ator. Estratégia para jogar atenção nessa grande alma que se propôs a 'mergulhar no abismo da poesia'. Quase um exercício de auto-emulação para que a plateia renda-se em admiração a quem se permitiu sofrer por coisa alguma. As palmas são para o ator, nunca para o seu ofício, quase sempre ele capenga de força poética. O ator deveria ser essa entidade flutuante de identidade misteriosa, invisível. Deveria evaporar da atenção alheia e concentrar em aparições programadas. Mas aí já seria demais. Seria pedir que todo um império do ego e da vaidade desmoronasse feito castelo de cartas ao vento.


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domingo, 13 de dezembro de 2015

Senhores? Serei franco! Nunca entendi esses atores que fazem teatro tanto quanto vão ao teatro para assistir a outras peças de teatro. Quando eu faço teatro, ou logo após terminar uma temporada de teatro, prefiro chupar uma carambola azeda dentro dum quarto escuro a sair de casa - santo Deus! - para ir ao teatro.





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O bom ator é sempre elegante e circunspecto... Essa coisa histérica de espírito boêmio e amalucado combina mais com passista de escola de samba.



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É preciso ter um outro corpo e uma outra voz. É um crime inafiançável carregar para diante dos outros o mesmo timbre simpático que é o seu timbre habitual. Nada pode ser meramente simpático e habitual diante de uma plateia. Tudo deve ser rigorosamente falso e construído. E para isso há que se ter força, controle do tônus muscular, fôlego. Não dá para 'ser' quem se é no palco. É urgente que sejamos um outro que saibamos manipular, e que saibamos também sermos manipulados. Um 'ser' que deixa de ser esse corriqueiro 'eu' mas que também nada tem a ver com a personagem, que, a rigor, nunca existiu ou há de existir. É um 'eu' especial, consciente a cada segundo da construção de que é agente e alvo. Ser ator é exatamente igual ao que ocorre com um manipulador de marionetes. Não somos nem a marionete nem o próprio manipulador. Somos os fios que juntam os dois extremos.



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sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Tenho a benção de ser filho de uma família em que nenhum de meus parentes tem a mesma ocupação que eu tenho. Há um intervalo gigantesco e desabitado entre o que eu faço e o que eu sou, entre a minha intimidade e o meu ofício, entre a minha hereditariedade e aquele que eu inauguro ser. Sou sempre dois que nunca se misturam. Solitários em seus extremos. Seria um completo inferno se as duas metades se juntassem e eu fosse obrigado a partilhar do mesmo nome, das mesmas ideias, das mesmas fronteiras. Quero distância da minha origem para poder retornar a ela quando for necessário.


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quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Há esse texto de teatro cuja autoria é minha e que é um grande libelo contra os musicais contemporâneos. Porque não há nada mais insuportável do que ser um virtuose num mundo abarrotado de trecos que incitam ao virtuosismo. O texto é seco. As personagens são ocas. As cenas não carregam purpurinas. E a apoteose é absolutamente sem graça nenhuma.

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Acho a coisa mais estranha do mundo quando dizem-me 'gostei do seu trabalho'. É quase uma ofensa distraída de simpatia. Sou ator. Nunca na minha santa vida ocorreu-me desperdiçar tempo trabalhando.


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O mau ator sempre tenta chorar, repare! O péssimo ator consegue.


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domingo, 6 de dezembro de 2015

O ator contemporâneo, parece-me, é o emblema supremo do vazio ao qual chegamos. Símbolo oco de uma era do marketing e da propaganda, é ele, o ator contemporâneo, o protagonista de tudo. Convocado a aparecer, a opinar, a servir de exemplo para campanhas humanitárias, a dar bom dia quando é bom dia - e boa noite quando é boa noite -, é ele, o ator contemporâneo, uma espécie bem lapidada de bom moço de dentes brancos e cabeleira penteada. E revela-se o tempo inteiro. O ator contemporâneo, assim como o cidadão ideal que atravessa as nossas ruas de hoje, é alguém cuja intimidade é devassada em praça pública porque é obrigação verter lágrimas e sentimentos ao mundo. E é admirável quando o ator contemporâneo sente, diz a verdade, abre-se em suas entranhas em plena praça pública. É lei convocar o outro para testemunha daquilo que eu sou, sinto e penso. O ator, que antes escondia-se porque era tímido, retraído, avesso à luz, agora não abre mão de um refletor que o siga até quando decide ir comprar pão na padaria da esquina. A máscara que o escondia porque era função do ator esconder-se para dar passagem à personagem, hoje é quase apetrecho de decoração. A personagem virou consequência, não matéria prima da mentira da qual a poesia é forjada. Aliás, qual poesia que se sustenta hoje? Quem são aqueles que desejam encantar-se? Há encanto que sobreviva a tanta megalomania do ego dilatado?
Triste do ator que aparece e não reconhece o poder maravilhoso da sombra, do silêncio, do anonimato.


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sábado, 5 de dezembro de 2015

Saímos sempre de cena. Sumir para um ator de teatro é a coisa mais natural do mundo. A rigor, existimos só para isso: para sumir. Os entreatos de aparições são sentenças programadas de sumiços iminentes. Para nós, atores de teatro, a morte é experimentada a todo instante, a cada palavra perdida no espaço, a cada troca de luz, a cada movimento da cortina. O eterno para nós, atores de teatro, é a exata medida dos esquecimentos que deixamos impressos em cada palmo dos palcos onde pisamos. Nosso legado é a memória de que um dia existimos, sem desejos outros de impérios permanentes, sem registros fora da lembrança, sem legados infinitos. Temos a sorte de ver a vida sendo vivida dentro de um ofício que não deixa enganar a real essência da natureza humana. É tudo de mentira! Nossa única transcendência possível é talhada na matéria concreta. Nosso evangelho é impresso nas folhas da imaginação e lido com os lábios zombeteiros da criança que compreende a insignificância de tudo quanto é tido como sério, grave e urgente. Somos todos nós, atores e não atores, ridículos e maravilhosos ao mesmo tempo. Crápulas e santos. Sábios e mentecaptos. Cínicos e ingênuos. Ser ator de teatro é conviver com o desespero de se saber minúsculo frente ao tamanho do mundo. Personagem dentro de um palco maior que estabelece qual máscara é a mais adequada para determinada ocasião. E é por essa consciência, a certeza de nossa espetacular impotência, que uma grandeza de encher os olhos faz-se brotar dentro de cada um de nós. Que sorte a minha essa a de ser ator.  

Marília Pêra, uma das maiores do nosso teatro.



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quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Eu faço o papel, eu não sei o que é o papel. E pouco me interessa sabê-lo. Tivesse eu a consciência do papel a ponto de dizer ao mundo o que ele é, não seria ator. Os acadêmicos são peritos em explicar coisas a si mesmos e aos outros. Os atores não explicam nada, nem a si próprios, tampouco aos outros. Os atores só fazem. E é necessário desenvolver uma certa ignorância voluntária - ou uma inteligência nada conceitual - para simplesmente fazer o que se precisa fazer sem precisar saber o que se faz.

É sempre uma idiotice sem tamanho entrevistar um ator. O pipoqueiro da esquina do teatro seria mais hábil em dar uma entrevista sobre qual assunto seja.



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terça-feira, 1 de dezembro de 2015

O bom ator faz uma única coisa: bota a história para andar. O bom ator torna-se bom porque sabe perfeitamente que a história o precede. E é só ela que importa. E se não houver um boa história para contar, o ator, ainda que seja um bom ator, junta-se à história, e ambos, história e ator, tornam-se inseparavelmente péssimos.


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