segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Todo bom ator é elegante. Daquela elegância que não compreende uma gravata amarrada no pescoço e tampouco um rabo de fraque esvoaçando aos olhos alheios. Todo bom ator é elegante naquela elegância mínima, que não chama publicidade alguma para o charme que proclama sem esforço outro senão o de ser só isso mesmo: elegante e ponto final.


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Eu diria com 100% de certeza que um ator se faz com 99% de pulmões e 0,9% de cinismo... O 0,1% restante é uma incógnita.


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Quando um ator morre a gente sente a morte duas vezes.


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Há um milhão de desvantagens em ser ator. A única vantagem é que ela sozinha supre todo o milhão de desventuras somadas.


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O ator está sempre no tempo épico. A rigor, é ele, o ator, tão somente um contador de histórias. Não importa se a peça é dramática, melodramática, com quarta parede, se do bule sai fumaça ou o que seja, o ator é sempre o mesmo: munido de uma completa indiferença para com o teor emotivo do que a personagem sente, ele apenas conta para a plateia quem aquela determinada personagem é. O ator está comprometido com a ação de contar, nunca com a adjetivação emocional. O verbo é o guia do ator. O resto é silêncio.


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domingo, 4 de setembro de 2016

Hoje substituí uma das atrizes numa peça cujo texto eu escrevi e também dirigi para a cena. E como é difícil ser ator! Como tudo é sempre mais fácil visto de longe, na proteção da sala escura, na distância da palavra escrita, no cuidado de quem diz aos outros o que fazer quando não é você quem tem que fazer. E como é maravilhoso subir ao palco para sentir a dificuldade que é ser ator, saber-se ridículo, interpretar o ridículo, organizar um força tremenda para inventar possibilidades no absurdo para depois vê-lo desmoronar, e tudo diante do espectador. Como é cruel colocar-se debaixo dos refletores! E por que então o fazemos? Talvez para evitar catástrofes quando a proteção do simbólico não nos suaviza o tombo. É isso: tombamos porque é seguro tombar, e para evitar que se machuque de verdade no chão duro da realidade! 

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Acredito que todos deveriam ter um projeto íntimo de solidão. Um canto reservado, por menor que seja, para a manutenção desse desespero de sentir-se absolutamente só e desamparado. Acredito que é a convivência com esse terreno o que nos torna alertas e conscientes para tudo o que está para além de nós. E o inverso também é verdadeiro: quanto mais multiplicamos companhias, atenções, tarefas, mais cegos nos tornamos para o perímetro que foge das pequenezas que habitamos. Quanta gente rodeada de filhos, parentes, bichos de estimação, samambaias, gente que arma um cenário de conforto e segurança sem desconfiar da enorme burrice que cultiva e prega como sentido maior de suas diminutas existências.

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