quinta-feira, 27 de novembro de 2014

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Não sou a favor da democratização da informação
Sou a favor do silêncio
Da democratização do segredo
Da distribuição gratuita de sombras, esconderijos, becos escuros
Todos rumo à surdina!...Eu diria
Afinal
Sou um democrata de carteirinha
Pelo direito de ninguém chafurdar para além daquilo que é urgente ser sabido
Ou seja
Quase ou nada
de Coisa
Nenhuma

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terça-feira, 25 de novembro de 2014

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O tropeço diário e inevitável do ator em sua tentativa de perseverar é o que lhe confere caminho para uma determinada consciência fundamental: a de que a consolidação de um 'eu' único e exclusivo às suas paixões é terreno impossível. O fracasso lhe dá a consciência de que há algo maior a reger a sua pequena função de saber-se vivo e ativo. É como se houvesse um entendimento do funcionamento do teatro dentro do ator, sendo ele próprio uma engrenagem de elaboração e atuação da sua impotência - a personagem aqui deixa de existir, seria impossível considerá-la um instrumento de trabalho do ator, ela não é mais alvo de nada. Para além da vontade de dar vida a determinada qualidade de existência, o ator, em um último estágio de consciência, compreende que o seu papel é antes materializar as vibrações daquilo que sempre existiu a despeito dos seus esforços particulares. Nessa medida, nenhum sentimento é alcançável senão pelo esforço da razão aliada à intuição. O teatro é o protagonista do próprio teatro, e nunca o ator em sua pretensiosa solidão inspirada.


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segunda-feira, 17 de novembro de 2014

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Tenho tanta dificuldade em mudar de hábitos quanto em mudar de roupa. A diferença é que quando finalmente mudo de roupa, os hábitos só ficam um tiquinho mais chiques, e nada mais.

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domingo, 16 de novembro de 2014

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Pior do que dizer a verdade é aquele que confere se é verdade o que dizem...
Eu dou-me muito bem com a mentira, aliás, é só com ela que eu fecho parceria. Quem quiser acreditar que acredite!


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terça-feira, 4 de novembro de 2014

"(...) O homem se explica em Deus, mas por aquilo que representa em Deus a essência atual do homem; isto é, seu poder é uma parte do poder de Deus, ele é uma parte da natureza; é impossível que seu corpo não receba, dos corpos que lhe são externos, mudanças das quais ele não é a causa, que seu espírito não receba ideias que ele não formou. Ou seja, é impossível que ele não seja passivo, presa das paixões. Suas ações são resultantes necessárias das leis universais; nele, nada vem dele; ele é um escravo (...)"
Léon Brunschvicg, sobre a filosofia de Spinoza.
Através do mesmo princípio se dá o trabalho do ator. Ele é parte da personagem na medida em que a personagem configura-se como mundo tangível, atualizando em si uma potência que pré-existe enquanto ideia e essência. O ator nada cria, mas deixa-se ser afetado ao mesmo tempo em que afeta um terreno de intensidade existencial, não havendo necessidade de fazer maiores esforços para habitá-lo porque desde sempre o esteve habitando. Não cabe ao ator o exercício de 'ir' atrás da composição da personagem como se a personagem fosse o fim do percurso de uma busca, como se ela estivesse além, na perspectiva imaterial de um Deus a ser tocado um dia. A personagem é matéria que exerce força sobre o ator que é parte integrante do mesmo mundo. Tratando de outra maneira, pensar o ator como esse elemento especial que dá vida à personagem é torná-lo refém de uma relação de poder onde ele próprio será sempre a vítima (ainda que possa pensar o contrário), condicionado a uma espécie de imaginação piedosa que em nada é criativa, senão aprisionadora de um universo íntimo, sem maiores alcances aos outros corpos. Ao invés disso, o ator desenvolve para si uma constante passividade consciente, porque reconhece ser somente uma parte do universo ao qual não tem controle algum, senão agindo como canal de distribuição de intensidades desse mesmo universo em que habita e é habitado.