terça-feira, 25 de novembro de 2014

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O tropeço diário e inevitável do ator em sua tentativa de perseverar é o que lhe confere caminho para uma determinada consciência fundamental: a de que a consolidação de um 'eu' único e exclusivo às suas paixões é terreno impossível. O fracasso lhe dá a consciência de que há algo maior a reger a sua pequena função de saber-se vivo e ativo. É como se houvesse um entendimento do funcionamento do teatro dentro do ator, sendo ele próprio uma engrenagem de elaboração e atuação da sua impotência - a personagem aqui deixa de existir, seria impossível considerá-la um instrumento de trabalho do ator, ela não é mais alvo de nada. Para além da vontade de dar vida a determinada qualidade de existência, o ator, em um último estágio de consciência, compreende que o seu papel é antes materializar as vibrações daquilo que sempre existiu a despeito dos seus esforços particulares. Nessa medida, nenhum sentimento é alcançável senão pelo esforço da razão aliada à intuição. O teatro é o protagonista do próprio teatro, e nunca o ator em sua pretensiosa solidão inspirada.


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