Acho os nossos atores maravilhosos. Digo os nossos atores de teatro. Sem um pingo de ironia. Acho os atores de meu país uns dos melhores atores do mundo. A miséria misturada ao calor nos dá uma tamanha dose de descompromisso com tudo que o que sobra é uma audácia despudorada, irresponsavelmente corajosa. Somos quase a reprodução de uma trupe de molambentos medievais, comediantes desesperados em busca de um lugar para montar nosso palquinho mequetrefe. Mambembes atrás de um bendito prato de comida que justifique o suor despendido. Empurram-nos para a corda bamba e desde cedo aprendemos na marra a sambar para não cair de vez. E quando caímos é só para voltar lá no alto de onde despencamos. Indo assim, aos trancos e barrancos. Essa ausência de tudo é o que nos torna espertos, talentosos e humildes na medida do aceitável. Acho esses atores gelados da civilização polar um porre. Principalmente esses atores da seita stanislavskiana do tal do MÉTODO. E é quase uma seita universal por aqui. São quase sempre atores afrescalhados, cheios de não-me-toques, quase possível inalar um perfume de diva afetada que brota de seus cangotes instruídos. Carregam agentes a tiracolo que os agenciam feito donzelas necessitadas de um lencinho de seda bordada arremessado ao chão para que atravessem a poça suja... Ah não! Gosto dos meus atores. Atores que são uns dos melhores atores do mundo... (Com a devida exceção feita aos atores ingleses, esses sim os filhos legítimos dos mais brilhantes tablados de ontem, hoje, e sempre).
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