sexta-feira, 27 de maio de 2016

Ser ator de teatro é fracassar tendo a consciência de que se fracassa. E é só isso que pode redimir o ator: a consciência de que sua única certeza é a de fracassar. Porque algo que precisa ser reiterado toda santa noite e diante de pessoas diferentes é um sinal bastante evidente de que não há jeito de conseguir perpetuar-se, que o fim iminente é não só um destino previsível como também desejável. E é por isso que o fracasso não é um diagnóstico de derrota, mas de vida. Morre-se para poder viver. A impossibilidade de habitar uma ideia que atravessa o tempo e imortaliza o seu autor, conferindo à presença física do corpo vivo o sentido maior de uma existência, é o que imprime ao instante, ao que acontece agora, nem antes nem depois, uma razão superior às vocações de eternidade. Vive-se mais plenamente na medida em que sabemos que estamos morrendo. Esse é o principal ganho moral e ético do ator: ele desconfia de verdades absolutas e infinitas, daquilo que é impossível tocar porque foi feito para não ser tocado. Ao mesmo tempo em que preserva para consigo um mistério grandioso, que é o mistério da própria vida: por que insistimos em existir em um hiato tão breve de tempo? E sabendo que será breve, por que ainda assim insistimos em não abandoná-lo? Por que entramos em cena? Por que? 

Ser ou não ser, eis a questão.



...




...

Nenhum comentário:

Postar um comentário