sábado, 7 de maio de 2016

Não há nada mais entediante do que uma personagem que 'se identifica' com os espectadores. Gosto dos dramaturgos que constroem personagens esquisitas, monstruosas, de sobrancelhas pesadamente arqueadas, que em nada se parecem com as dores ou alegrias da plateia. Para identificar-me com as dores ou alegrias de alguém eu só tenho que dobrar a esquina da minha casa, não preciso ter o trabalho de ir até o teatro. Ou o teatro é espetacularmente apartado dessas instâncias comezinhas do cotidiano, ou, então, é mais adequado sentar a bunda no sofá e assistir a um bom melodrama televisionado. A identificação da personagem-espectador, no teatro, deveria ser sempre pelo assombro da incompatibilidade entre poesia e vida. Todo o resto é desperdício de tempo e paciência.


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