sábado, 21 de maio de 2016

Fernanda Montenegro disse em recente entrevista que o pipoqueiro que marca ponto diante do teatro ganha mais do que os artistas do palco. Ela está certa. E se a pipoca for doce e também salgada periga o pipoqueiro ganhar mais do que a soma dos rendimentos do elenco inteiro. E acrescento eu: o pipoqueiro tem também mais clientela que o ator das ribaltas. Hoje fizemos um espetáculo para exatas 23 pessoas num teatro com capacidade para mais de 200 na cidade de Itatiba. Um teatro lindíssimo. E vazio. Uma peça com indicações a prêmios no currículo, casas cheias em temporadas pregressas aqui em SP, ótimas críticas nos jornais... Mas o que isso importa? Para que serve ir ao teatro? Quem sai de casa para ir ao teatro? O teatro é um acontecimento que vale a pena ser divulgado? Para que fazer esforço pedindo atenção para uma coisa que já deveria ser interessante por princípio? Que tipo de investimento capenga é esse cujo produto nem bem consumido já evapora no exato instante em que deixa de existir? Pode parecer vaidade ferida, desejos de aplausos, recalque do fracasso não admitido, teimosia de gente teimosa - e talvez seja isso tudo junto. Mas é também uma outra coisa, um grito de revolta ao título de retumbante carência de necessidade e urgência ao qual o teatro foi contemplado nos últimos tempos. O galã da novela precisa aportar seus perfumes no teatro para que a casa possa lotar de espectadores? Quase sempre espectadores histéricos e cujo motivo de vida é prezar pela histeria na submissão ao ídolo famoso... Ou então faz-se necessário estruturas mirabolantes de cenários e maquinarias, figurinos e purpurinas, passos marcados e gogós afinados, pandarecos e trecos, tudo importado do Uncle Sam e com o nobre intuito de impressionar cada vez mais os olhos daqueles que tanto já se impressionaram com a mesmíssima repetição do impressionante-nunca-antes-visto-na-face-da-Terra? Quando foi que o teatro deixou de ser teatro (encontros humanos!) para virar programa de auditório, cassino do Chacrinha ou desfile fashion? E por que insistimos em continuar? Por que? 

Nossa miséria política e ética não é fruto de uma completa ausência de encontros marcados fisicamente nas atividades de teor simbólico? E substituídos pela lambeção virtual e televisionada de gente de sorriso plastificado, portadora da mesma melodia enjoativa da voz, tão vazia de substância quanto transbordante de coisa nenhuma... E é a isso que depositamos o nosso modelo mais bem acabado do que seja o 'artista'?

As tetas de que nós - atores de teatro - mamamos, são tão murchas quanto a inteligência daqueles que não desgarram das tetas alheias para mamar até explodir de tanto gorfar.

Obs: a referida apresentação do espetáculo para as 23 pessoas e mais de 100 cadeiras vazias foi uma das melhores sessões que já fizemos. Há essa misteriosa força que nos leva adiante e não computa valores de espécie alguma a partir do instante em que a cortina abre suas franjas.

Viva o teatro! Viva o teatro sempre!


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