quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Suassuna e Shakespeare são irmãos. O sertão do primeiro é 'o mundo é um palco' do segundo. Ambos são artistas da materialidade do teatro, da poesia forjada na mentira das tábuas do palco. O medievalismo de Suassuna repete-se nas fábulas sempre circulares e fantásticas do Bardo inglês. Há um microcosmo mítico latejando em ambos os autores, acompanhado por personagens arquetípicos que transcendem qualquer psicologismo ou tentativa de aproximar a vida da arte. A arte vence em ambos. E só vence porque alcança a vida, senão a particularidade imediata dela, a sua essência interior, imutável. Suassuna e Shakespeare são dois monumentos teatrais. São, ambos, teatro puro. E deveriam, ambos, ser exercício obrigatório para artistas dessa nossa geração tomada pela baboseira da intimidade, do eu-afetado, do preenchimento de uma individualidade que é sempre ínfima e desimportante frente a qualquer máscara poética.


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