Suassuna e Shakespeare são irmãos. O sertão do primeiro é 'o mundo é um
palco' do segundo. Ambos são artistas da materialidade do teatro, da
poesia forjada na mentira das tábuas do palco. O medievalismo de
Suassuna repete-se nas fábulas sempre circulares e fantásticas do Bardo
inglês. Há um microcosmo mítico latejando em ambos os autores,
acompanhado por personagens arquetípicos que transcendem qualquer
psicologismo ou tentativa de aproximar a vida da arte. A arte vence em
ambos. E só vence porque alcança a vida,
senão a particularidade imediata dela, a sua essência interior,
imutável. Suassuna e Shakespeare são dois monumentos teatrais. São,
ambos, teatro puro. E deveriam, ambos, ser exercício obrigatório para
artistas dessa nossa geração tomada pela baboseira da intimidade, do
eu-afetado, do preenchimento de uma individualidade que é sempre ínfima e
desimportante frente a qualquer máscara poética.
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