quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Estou num cartório. Num desses cartórios onde as pessoas entram para carimbar papéis e provarem que são de fato quem dizem que são. Entrei no cartório sem motivo algum. Sou quem sou e não tenho papel nenhum para carimbar e provar que sou esse, de fato, quem escreve essas linhas imprestáveis. Ao menos até quando me provarem o contrário, sou esse mesmo. Continuo sendo esse mesmo. Quando sinto que sou um miserável, que não valho um vintém furado de latão enferrujado, eu costumo fazer exatamente isso: levar as minhas pernas até o cartório mais próximo, sentar numa cadeira, e deitar os olhos nessas pessoas que carimbam papéis para outras pessoas que como eu precisam provar que são quem de fato são. Hoje eu não preciso provar patavinas nenhuma. A única certeza é a de que eu não sou tão miserável quanto pensava que era. Isso eu consigo provar. Mas só agora. Só depois de ter levado as minhas pernas a esse digníssimo estabelecimento onde as pessoas carimbam papéis para darem aos outros o nobre direito de existir com a legitimidade que toda alma nobre merece...



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