segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Olha, faz tempo que aprendi a desconfiar de tudo quanto é conceito. Adoro filosofia. E adoro filosofia justamente porque a filosofia é um balaio de gatos danado, um criando um conceito diferente do outro, e salve-se quem puder. Uma eterna nuvem de abstração tormentosa entre Palmeiras versus Corinthians. Mas, por alguma razão, os filósofos são os primeiros a desconfiar de que o conceito que defendem consegue, de fato, resumir uma mínima possibilidade de alcançar a verdade. E lá se vão eles em busca de novos conceitos, contrariando, às vezes, até mesmo a si próprios, aos conceitos que criaram como ponto de partida no início de suas empreitadas. Os filósofos são essas máquinas invejáveis de criar conceitos e de destruir conceitos. Vivem, os filósofos, sempre nesse intervalo de desconfiança eterna, arquitetos do edifício que eles mesmos dão conta de por abaixo. Por isso que a filosofia é bastante irmã de outro terreno não menos barulhento e insolúvel: a arte. Ambas, arte e filosofia, são laboratórios de consciência. Produzem conceitos e universos que se desmancham no ar tão logo aparecem. E nada interferem na vida. E é por essa razão que arte e filosofia são departamentos que me enchem os olhos. Porque ambas sabem, a arte e a filosofia, que a vida corre o seu fluxo natural, e que tentar domá-la, doutriná-la com conceitos forjados pela imaginação, razão ou ignorância, que reorientar o curso natural da vida, dos desejos e pulsões imanentes à vida, é, enfim, de uma estupidez espantosa. E quando vejo um tantão de gente preocupada com a legitimidade de um conceito enquanto espelho de determinado ideal concreto de comportamento, seja ele o conceito de família ou do raio-que-o-parta, ocorre-me uma vontade maluca de oferecer aos donos dessa contenda inútil um pirulito de tutti-frutti para lamber. Porque, no frigir dos ovos, a idade da creche ainda não foi superada. Idos anos em que sujar a fralda, parece-me, não serviu de exemplo algum para que o cérebro de hoje soubesse aguçar os sentidos e saber separar aquilo que é fedorento daquilo que não é.



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