domingo, 13 de setembro de 2015

Evidente que o único cenário possível de Elsinore é um teatro. Evidente que Hamlet é um ator. Não há exercício metalinguístico algum na peça dentro da peça. Tudo é peça desde o início. Tudo é teatral do princípio ao fim. Explicitamente teatral. A única diferença entre Hamlet e as outras personagens da peça é que Hamlet sabe que é um ator. As outras personagens, ainda que sejam igualmente fingidoras tal qual Hamlet mostra-se ser, ignoram que o são. Acham que Elsinore é Elsinore e não uma Elsinore cenográfica. O mundo como um palco só faz sentido para Hamlet. E é precisamente essa consciência, a do mundo como um enorme teatro, que forçosamente torna Hamlet um condenado. Fora Hamlet, as demais personagens creem ser quem são, ou acham que são quem são. São como esses atores fajutos formados pelos métodos Fátima-Toledo da vida. Passam uma eternidade tentando virar a personagem, ou acreditando que são quem acham que são, e pouquíssimo ou quase nada enxergam a si próprios. Pouco ou nada desconfiam de que a única coisa certa da profissão de ator é a dor e a impossibilidade de virar coisa alguma, de ser coisa alguma senão um renomado fingidor. Hamlet só é o principal personagem da história da dramaturgia porque Hamlet é um ator. Um ator que sabe que é um ator. E é essa, tão somente essa, a sua fatal condenação.



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