sábado, 26 de setembro de 2015

Sentado aqui onde estou, numa cadeira vazia dentre tantas outras cadeiras vazias da plateia do teatro onde em breve as luzes se acenderão para mais uma sessão da peça em que participo como ator... O palco também está vazio. Tudo silencioso e sem vida. Somente eu e mais ninguém. E penso cá comigo quantos outros tantos atores como eu já pisaram nessas mesmas tábuas. E quantos outros tantos hão de me suceder nesse simples ato de pisar nessas mesmas tábuas. E para quantos outros personagens servirão de intérpretes como eu o faço agora. Talvez, quem sabe, o mesmo personagem que hoje cabe a mim representar e que lá atrás já foi vestido por outros. A grandeza do teatro, parece-me, não está tanto nesses instantes em que algo acontece - a encenação propriamente dita -, mas nessas fissuras ocas de tempo, feito sincopas, nas fronteiras de um antes e um depois, quando a espera de que algo aconteça, ou o luto de escuridão que sucede o acontecido, inaugura uma consciência especial: a de que somos igualmente minúsculos e poderosíssimos, parte ínfima e integrante de um todo eterno e a própria materialização dessa força de potência eterna. Aí está o vínculo espiritual do teatro. É preciso que haja um templo para que se perceba isso. E o templo já é o teatro na sua arquitetura de teatro. Só o teatro, e basta. Quando Shakespeare diz que o mundo é um palco, reiterando que somos nós personagens de um enredo cuja vida atualiza toda vez em que o sol desponta no horizonte, deveria ele ter completado a sentença invertendo os termos, assim: o palco já é o mundo. Porque toda a infinita grandeza da natureza humana está condicionada à certeza de que somos marionetes articulados por sabem-se lá quais fios invisíveis. Se o grande está contido no pequeno (o mundo é um palco), o pequeno (o palco) é o responsável por engendrar o que em nós não pode caber no interior de qualquer dimensão concreta.


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