segunda-feira, 28 de setembro de 2015

No fim da tarde, há pouco, ligam-me de uma agência publicitária cujo nome ao certo não me recordo mas que parecia, certeza absoluta!, invocar a marca de algum chiclete tutti-frutti com cheirinho gostoso, perguntando se eu aceitaria fazer um teste para emprestar a minha voz para o cliente do produto X do ramo das necessidades contemporâneas Y (porque, veja bem, é preciso encontrar a voz certa para o produto X do ramo das necessidades contemporâneas Y). Como descobriram o meu contato eu não faço ideia. Recusei. Insistiram na ideia ao revelar o quanto eu ganharia de cachê caso fosse aprovado (porque, veja bem, não basta fazer o teste para o produto X do ramo das necessidades contemporâneas Y, é preciso ser aprovado!). Recusei uma segunda vez. Lembraram, então, que havia um cachê teste de 100 reais (porque, veja bem, há quem empreste a voz, ainda que a voz não seja aprovada no teste para o produto X do ramo das necessidades contemporâneas Y, pensando somente em abocanhar os 100 reais do cachê teste). Recusei pela terceira e última vez. Agora, aqui no shopping onde estou para assistir a um filme, e cujo mesmo prédio abriga uma conhecida escola de formação para atores (porque, veja bem, fazer compras e pensar em arte são coisas que devem caber perfeitamente na mesma sacola) vejo, então, um anúncio de 2 atores - desses atores de rosto hidratado, símbolos perfeitos da saúde folhetinesca das telas de TV - estampados em fotos enormes e trajados cada qual com uma camiseta em que a seguinte inscrição aparece em letras garrafais: 'Escola X, EU FIZ'. Ao lado do referido anúncio, um outro anúncio faz propaganda do que está atualmente em cartaz no teatro que habita a mesma instituição de ensino (que habita o mesmo prédio que o shopping, ou que é o próprio shopping): uma peça escrita pelo dramaturgo Gabriel Chalita.
Neste instante, aqui onde estou, sorvendo um café antes de entrar na sala de exibições para assistir ao filme, penso cá comigo se eu não deveria fazer um workshop com algum boneco de posto de gasolina (daqueles infláveis que se erguem pela base através da ventoinha poderosa de ventiladores gigantes) para aprimorar, enfim, as minhas parcas habilidades de intérprete dramático.

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