segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Tudo é um mecanismo. A vida é um mecanismo de perfeição intermitente. O que significa dizer que há um equilíbrio de engrenagens que supera o interesse particular em dar um sentido aquilo que somos porque desejamos ser quem somos. Não há força moral ou ética que sobreponha à ideia de que tudo faz parte de um sistema de movimento e funcionamento constantes. O argumento lógico está em reconhecer que é a força de potência das coisas que existem a responsável por instaurar um fluxo de vida. Tudo para além disso são conjecturas abstratas da imaginação que se distancia da verdade dos fatos. Sendo o teatro um microcosmo da vida, o procedimento é o mesmo. O ator consciente não é aquele que mergulha dentro de si para de lá recuperar uma composição de personagem. Essa afetação íntima em nada conspira para adequar-se ao movimento do mundo forjado e propositalmente artificial que é o terreno da poesia - e, sendo um artifício, pressupõe uma estrutura de mecanismo que já pré-existe para dar-se ao movimento. O ator consciente é aquele que se deixa atar voluntariamente ao mecanismo ao qual sabe pertencer: o texto, o cenário, o figurino, a iluminação e sonoplastia, o contato com os outros atores, tudo isso, enfim, são peças formadoras dessa grande engrenagem concreta e de potência expressiva. A personagem em sua instância subjetiva não existe. Afirmar contrariamente a isso é um equívoco semelhante àquele em que o homem crê-se dono do seu destino, ou, ainda, que imagina que tudo o que há ou haverá de ser respeita a uma lógica que compete a ele, ao homem, a razão ou finalidade primordial. O teatro é esse sistema que encaixota o ator, o restringe em sua liberdade, armazena e amplia sua verve expressiva justamente porque faz canalizar sua voz ao invés de fingir uma falsa liberdade. Liberdade essa que não só é falsa no teatro como também na vida.



...




...

Nenhum comentário:

Postar um comentário