terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Há em Espinosa um monismo ontológico associado a um dualismo conceitual. Corpo e espírito, para Espinosa - e contrariamente ao que acreditam Platão e Aristóteles -, são uma única e mesma coisa.
Mas aquilo que existe enquanto corpo é passível de ser lido de maneira a inaugurar um valor que já não é mais corpo senão na ideia que se tem desse corpo. De maneira mais clara, é exatamente o que ocorre com o ator e o suposto entendimento de que se tem da personagem. Ator e personagem, para o ator (que é corpo e espírito) são uma única e mesma coisa. A leitura do significado desse corpo - mais uma vez o dualismo conceitual - é que dá caráter aquilo a que chamamos de personagem. E que já não é mais corpo senão uma valoração de uma ideia já necessariamente apartada da matéria em si. E sendo a personagem uma leitura do corpo, quem executa o ato dessa específica ação nunca é o ator senão o espectador. Por isso que é um equívoco pensar o ator como alguém que 'interpreta' ou busca interpretar personagens. É impossível moldar uma coisa que não existe, ou só passará a existir enquanto conceito a partir de uma decodificação de signos futuros. O trabalho do ator não é dar forma à leitura, é, ao contrário, dar relevo à substância do corpo. 
Espinosa tece um tratado sobre o ofício do trabalho do ator ao negar qualquer metafísica nesse processo de composição de um ser que antes de tudo é e só pode ser corpo e espírito ao mesmo tempo.


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