terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Acabo de assistir a uma entrevista gravada a tempos atrás com uma de nossas atrizes mais experientes, ainda viva hoje, e uma das últimas remanescentes da época de ouro do TBC. E o teor da conversa deixou-me assustado, não por aquilo que era dito pela entrevistada senão pela razão dos argumentos que é a mesma desde sempre, a de que o ator é essa espécie de marginal eternamente em busca de um equilíbrio entre a aceitação do público e aquilo que ele deseja dizer porque acredita ele que mereça ser dito. Pensando cá comigo, o ofício do ator talvez seja o único que não consegue corresponder a um plano de carreira. Se o restante das profissões erige um cenário de degraus em que o aspirante pode imaginar-se subindo até chegar, quem sabe, ao topo, com o ator, ao contrário disso, cada passo é instável, um equilibrar-se numa plataforma flutuante sem anteparos ou corrimão. O sucesso, para o ator, é uma mera contingência do acaso, assim como o fracasso é um outro contratempo no meio do caminho. Seja um, seja o outro - sucesso ou fracasso -, a regra geral é o esquecimento. O ator é feito dessas ambas matérias: a de aparecimentos e a de esquecimentos. Tudo aparece e evapora no instante seguinte. O que me deixou assustado ao assistir a entrevista foi compreender que nessa jornada pelos palcos futuros não haverá muitas alternativas adiante. Aquela velha atriz é exatamente quem sou eu agora, e eu possivelmente repetirei as mesmíssimas angústias de hoje quando lá eu tiver os meus anos acumulados nas costas como os tem aquela atriz. Nada separa a mim daquela atriz. Estamos no mesmo estágio de desespero, na mesma condição de expectativa, ambos, eu e ela, na iminência de dar um passo para o abismo, ou agarrarmo-nos um pouco mais na segurança do aplauso da evidência. Não há facilidade alguma. Não há tranquilidade nenhuma de ser quem se é hoje ou amanhã. Ser ator, parece-me, é fincar raízes num tempo coagulado em que existir demanda um contínuo esforço sem qualquer promessa de recompensas, status, riquezas acumuladas, aposentadorias e coisas afins...


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