Fiz hoje o melhor espetáculo de minha vida. Um gato felpudo subiu ao
palco, entrou em cena e lá permaneceu debaixo dos refletores,
olhando-nos com aqueles bigodes mudos e descrentes de quem zomba de
Dionísio sem medo das consequências. Não houve qualquer interrupção da
apresentação. O gato flanava pelo cenário, estacionava num canto,
bocejava em nossa direção com as pestanas semicerradas. A cada pico
dramático que insistíamos em galgar, o gato respondia com o dobro de
tédio.
Quanto mais fazíamos esforço para
existir, o gato economizava forças na sua pose de esfinge do Egito. Seu
pensamento de gato era traduzido em tempo real por cada um de nós,
atores, e também pela plateia que lá estava: 'meow, que bando de gente
estupidamente ridícula!'. O gato desmoronou sem dó todo e qualquer
esforço que fazíamos. Nem Lawrence Olivier daria conta de competir com o
bichano. Eis a lição mais valiosa que os atores podem ter a sorte de um
dia receber: o quão somos incrivelmente patéticos, equilibristas na
corda bamba, bastando um lufar de vento para o nosso castelo de cartas
vir abaixo. Na dúvida, deixe os atores de lado e ouça o que o gato tem a
dizer. Ouça sempre o gato em primeiríssimo lugar!
Jogue fora todos os seus Stanislavskis e adquira já um gato. Vai te
ensinar mais do que todo o repertório reunido de pensadores do teatro
ocidental.
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