domingo, 17 de julho de 2016

A morte de Sábato Magaldi é também uma despedida do entendimento da arte como cultura, muito além daquele desejo louco e apaixonado de se expressar publicamente para receber aplausos e confetes. Homens do porte do Sábato Magaldi deram a entender aos atores de teatro e a gente de teatro que fazer teatro é coisa perigosa, que defender uma ideia debaixo do refletor pressupõe ousadia e responsabilidade que vão além do ímpeto tresloucado da afirmação do ego. Há consequências em querer ser artista. E, uma vez artista (quem hoje botará a cabeça a prêmio para definir o que é ser artista?), o preço que se paga é acostumar-se com a corda bamba das incertezas, do risco de remar contra correntezas do politicamente aceitável, de estampar a cara para revelar sem medo as hipocrisias de um mundo sempre rarefeito à própria consciência, de conviver com a sensação de nunca chegar a lugar algum, de nunca saber o suficiente para poder comunicar o que se sabe. Enfim, homens do porte do Sábato Magaldi deixam um legado muito maior do que a simples paixão pela arte do teatro. Apaixonar-se é fácil. O complicado é imprimir inteligência, cultura, senso ético e moral numa atividade tão devastada pelos bonequinhos da fama, do topete penteado e do charme das lentes de televisão. O teatro deveria ser um patrimônio de uma sociedade que valoriza o pensamento, que celebra o amor pelas suas tradições, que reitera um imaginário comum de histórias coletivas. Nossa miséria social de hoje não é só uma miséria de estômago. É também, e principalmente, uma miséria de metáforas, de palavras bonitas, de poesias afiadas, de paisagens que se dão ao direito de serem contempladas silenciosamente.


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