A graça maior de ser ator de teatro não é representar personagem
alguma... O prazer está justamente nesse intervalo invisível para a
plateia em que o ator entorta o nariz porque engasgou no texto que
acabou de proferir, ou quando, num lapso de segundo, o ator se dá conta
de que está no teatro naquele exato instante, vestindo roupas
esquisitíssimas, e percebe o quão patético é ser quem se é: um contador
de lorotas cujo fardo é chegar até o ponto final da história. A graça
maior de ser ator de teatro é equilibrar-se na certeza e na dúvida de
que o que fazemos no palco serve para alguma coisa nessa vida. Há
credulidade e ceticismos igualmente envolvidos no âmago silencioso de
cada ator. A graça de ser ator de teatro é viver com um pé lá, e outro
cá. É nunca ser inteiro. É ser Hamlet. É ser sem recheio.
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