domingo, 10 de julho de 2016

A experiência de estar fora de cena e acompanhar diariamente o trabalho de três atrizes no palco reforça o meu assombro e admiração com relação ao ofício daqueles que fazem teatro. Que coisa mais absurdamente despropositada é oferecer-se aos olhares alheios para dizer sistematicamente as mesmas coisas, atravessar os mesmos atalhos, respirar as mesmas pausas...  E reunir tudo o que já se sabe fazer para fazer de novo e esperar que o público que aplaudiu ontem aplauda hoje também. E não acostumar-se com o que deu certo na noite anterior porque para dar errado hoje basta um estalar de dedos assim ó: click. E torcer para que o universo conspire à favor, porque há mistérios no teatro que só conseguimos entender porque deixamos de querer compreendê-los. E os mistérios são poderosos! E então acabar-se por inteiro nesse esforço de existir só por agora, mas não acabar-se por completo! Reservar alguma energia para existir e repetir tudo o que foi repetido hoje amanhã também. Que coisa mais assombrosamente maluca é essa que escolhemos fazer. Fosse por algum intermédio de uma consciência racional e escolheríamos fazer qualquer outra coisa, exceto esse suicídio diário, no mesmo horário, no mesmo local, na esperança de ressuscitar só para ter a chance de morrer de novo...


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