domingo, 10 de julho de 2016

Há dois momentos na história que fincam os fundamentos da idiotização completa do ator: 1) quando o ator perde a máscara; 2) quando surge a televisão... À perda da máscara segue a perda de todo vigor de expressão que o artifício demandava do intérprete. O ator desiste de ser épico e vira uma peça choraminguenta à serviço do charme melodramático. E também passa a relativizar tudo, a escarafunchar claros e escuros, a querer pormenorizar as contradições do âmago de seja lá o que for. Até um caroço de azeitona vira motivo para análises profundas, afinal, há que se descobrir um eu-caroço que justifique a natureza da azeitona tal qual ela se apresenta a nós: salgadinha e mergulhada na conserva. Em suma, o ator perde a força do porte de orador público para assumir a moleza do paciente em crise depressiva e deitado no seu divã particular. O surgimento da TV termina por idiotizar o que já havia de bastante idiota nesse ator de cara limpa, separado da máscara. Agora na TV, o ator - já molenga o suficiente, frouxo de energia expressiva o bastante, e padecendo das mesmas caraminholas psicológicas -, aprende a incrível arte de fazer biquinho. E de ser mimado. E de fazer as duas coisas ao mesmo tempo: fazer biquinho sendo mimado.

Digo isto porque acabo de ver uma dessas novelas que a TV transmite, e recheada de atores de teatro. E a pergunta que fica é só essa: qual o montante justo de dividendos que faz levar adiante essa maravilhosa barganha de perder totalmente o vigor da expressão para simplesmente fazer biquinho para o close-up da câmera? Qual o valor que compra a nossa incapacidade de tomar vergonha pela idiotice completa de uma energia já morta, enterrada e sepultada?


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