segunda-feira, 25 de abril de 2016

Todo ator é um Hamlet. O sarcasmo-melancólico de Hamlet também pertence ao ator. O mundo é deveras podre, e é só por conta disso que o ator é ator, porque é impossível fazer parte do mundo. Antes, é necessário rir do mundo, acusá-lo dos crimes que ele comete, chorar pela suas injustiças, resignar-se pelo fato de ser improvável fazer do mundo um outro mundo. Todo ator é um Hamlet porque todo ator, assim como Hamlet, é um solitário, alguém que enxerga tudo de longe, e, por isso mesmo, enxerga melhor. O grande teatro da vida é um palco, tão pequeno quanto o tablado de uma sala de espetáculos, tão gigante quanto o horizonte infinito cujos olhares não alcançam. O pequeno está contido naquilo que é grande, o grande contém o pequeno. O fardo de Hamlet - a consciência - é o mesmo fardo do ator. Não existem Hamlets ingênuos. Não existem atores ingênuos. Chora-se com um olho, com o outro dá-se uma estrondosa gargalhada. Hamlet e o ator são faces inseparáveis da mesmíssima moeda.



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