Acabo de ver um desses atores da nova geração da TV concedendo uma
entrevista a um programa de entrevistas no mesmo canal de TV cujo ator
em questão exercita o seu jeito bastante pessoal de ser-ator. E esse tal
jeito bastante pessoal de ser-ator é algo tão importante para o tal
ator, parece-me, que o jeito do ator conceder a tal da entrevista é
exatamente a cópia fiel do jeito com que o tal ator é ator quando exerce
a sua função de ator dentro das obras de dramaturgia da mesma
emissora. A melodia da voz, o tônus dos movimentos do corpo, o foco do
olhar, o topete penteado para o lado direito, os risinhos de canto de
lábio... Tudo igual. O jeito é o mesmo. O jeito bastante pessoal de
ser-ator. Imagino eu que ser-ator, hoje, em nada tenha a ver com
ser-ator de fato, senão em descobrir um jeito bastante pessoal de
ser-ator, um jeito bastante agradável que seja possível transferir para
as diversas instâncias da vida, seja para conceder entrevistas, comprar
pão na padaria, coçar as frieiras do pé esquerdo, ou, quem sabe e de vez
em quando, aproveitar o tal jeito de ser-ator para ser-ator quando
necessário for. O importante, parece-me, é emplacar uma certa manutenção
de equilíbrio estável entre essas ferramentas de construção do jeito de
ser-ator para que o ator possa sustentar a sua empatia perante o mundo,
e fazer do ator cujo jeito de ser-ator é o que lhe garante o status de
ser-ator, um maravilhoso exemplar de alguém parecido com outros muitos
alguéns, também jeitosos em seus bastante particulares jeitos de ser...
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