Essa língua que tanto ocupo-me em falar - e que tanto gosto de falar
porque é uma bela língua - é, ao mesmo tempo, uma paixão e um
enclausuramento. Porque se eu gosto imensamente dessa minha língua,
odeio em exata proporção o onde me foi dado o direito de falá-la. Esse
aqui onde estou me é sempre insuportável. Pudesse eu levar a minha
língua na bagagem e ir-me embora, é o que prontamente eu faria. Mas
deixando a minha língua aqui fico eu também aqui. Sair daqui sem a minha
língua é como partir sem ter partido, é
ficar mesmo estando longe. E assim já não vale a pena ir. Esforço
inútil. O exílio seria uma maravilha caso pudesse colonizar com minha
língua cada pedaço de terra estrangeira onde eu pisasse. Mas também sou
prisioneiro pelas fronteiras que a minha língua me impõe. Melhor não
seria ter língua nenhuma para que pudesse não carregar nada de mim para
qualquer lugar onde resolvesse ir. E por isso fico. Em prostrada
resignação, minhas bagagens sempre prontas nunca saem do lugar. Habitado
por dentro aqui estou eu. Completamente oco por fora, permaneço.
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