sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Quando Shakespeare diz que o mundo é um palco, não é figura de linguagem. Para nós, atores, é coisa bastante concreta. É saber que o protagonista de Shakespeare são os arredores, as tábuas enfeitiçadas por sua bruxaria, que é, também, algo concreto e produzido. Portanto, mais importante do que pensar num trabalho de interpretação de atores, parece-me, Shakespeare convoca-nos ao desafio de produzir bruxaria. E quem dela toma parte, parece-me também, tem o dever de deixar-se contaminar por ela. Sempre carrego comigo a mais profunda convicção de que o bom ator que entra em contato com Shakespeare não preocupa-se em nenhum momento em dar conta de interpretar a sua personagem. Antes, ele sabe que é impossível responder à tamanha dimensão humana e poética ao singularizar a personagem dentro das reduzidas dimensões que lhe cabem como artista. O bom ator shakespeareano faz como Shakespeare pede, delega ao palco - e às bruxarias enfeitiçadas pelo palco - o desafio de o levar adiante em sua jornada.


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