Quando Shakespeare diz que o mundo é um palco, não é figura de
linguagem. Para nós, atores, é coisa bastante concreta. É saber que o
protagonista de Shakespeare são os arredores, as tábuas enfeitiçadas por
sua bruxaria, que é, também, algo concreto e produzido. Portanto, mais
importante do que pensar num trabalho de interpretação de atores,
parece-me, Shakespeare convoca-nos ao desafio de produzir bruxaria. E
quem dela toma parte, parece-me também, tem o dever de deixar-se contaminar
por ela. Sempre carrego comigo a mais profunda convicção de que o bom
ator que entra em contato com Shakespeare não preocupa-se em nenhum
momento em dar conta de interpretar a sua personagem. Antes, ele sabe
que é impossível responder à tamanha dimensão humana e poética ao
singularizar a personagem dentro das reduzidas dimensões que lhe cabem
como artista. O bom ator shakespeareano faz como Shakespeare pede,
delega ao palco - e às bruxarias enfeitiçadas pelo palco - o desafio de o
levar adiante em sua jornada.
...
...
Nenhum comentário:
Postar um comentário