sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

Tanta gente buscando um sentido pra vida, e eu aqui, cumprindo com a tarefa de ir ao teatro de quinta a domingo para vestir um figurino, maquiar o rosto, repetir algumas palavras debaixo de um refletor, depois desvestir o figurino, lavar a cara e voltar para casa para poupar o gogó para no dia seguinte repetir novamente o mesmo protocolo, e tudo de novo, e mais uma vez a mesma coisa. E tudo isso em parceria com outros que entendem o mesmo que eu: não há nada mais enobrecedor da razão da existência de qualquer treco vivente - da ameba acéfala ao homo sapiens pensante -, que respeitar o combinado, agir para resolver um problema dado, e depois complicar tudo de novo para resolver uma outra vez. Vou revelar um segredo: teatro é igualzinho a lavar uma boa pia de louças. Ninguém lava uma pia de louças com ideias, lava-se com as mãos, com os dedos, com o equilíbrio exato entre água e sabão. E depois põem-se tudo para escorrer, para que seja usado de novo, e mais uma vez. Mas e a história de que o ator é um artista, de que ele carrega essa aura da poesia elevada, do sublime feito carne e osso, do canal da emancipação das misérias e sofrimentos humanos? Olha, tudo isso pode estar até incluso no pacote, mas nunca se serve uma boa refeição num prato sujo. O cardápio pode ser 5 estrelas, mas o pavimento de qualquer folhinha de alface deve estar limpo. Teatro é como lavar uma pia de louças, e isso é de uma libertação digna de se registrar nos anais de alguma cartilha do Buda do oriente: entender que a mais profunda satisfação de se estar vivo não está em outra coisa senão em resolver algo simples, pequeniníssimo, sem os arroubos da filosofia abstrata, da gana por alcançar o impossível que vem sempre embalado pelo pacote da ideia que escorre pelos dedos, seja ela qual ideia for.

Olha, experimentem o prazer que há em lavar uma boa pia de louças. É exatamente o mesmo prazer que sinto em fazer teatro. E caso tu sejas desses que não encontra sentido nenhum numa pia de louças, que bota tudo na máquina de lavar, aí eu já lavo as minhas mãos, e abstenho-me de jantar na tua casa. Peço uma pizza.... é mais prático. IFOOD!



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