segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Por que o teatro é inevitavelmente uma aula prática de ética...?

Há uma ideia de trupe. Uma ideia de que eu sou parte integrante de algo maior. E que eu não sou responsável por tudo. Só por uma parte do todo. Há essa sensação de não precisar interferir naquilo que não compete a mim interferir. E delegar ao outro a confiança que eu tenho para comigo quando sou eu o responsável por agir. E é como se eu fosse o outro e o outro fosse eu. Mesmo quando eu não estou eu estou. E quando sou eu o foco da atenção não sou só eu quem está em destaque. Só posso ser quando não é exigido de mim que eu seja. E a própria nulidade da minha identidade íntima já sou eu em potência máxima. Nesse intervalo de identidades em que ninguém é ninguém por inteiro senão coletivamente é que se forma a ideia de trupe. É como se fôssemos todos trapezistas. O trapézio balança sobre o vazio. E haverá sempre quem arrisque-se a lançar-se no vazio porque na outra extremidade já há quem esteja preparado para socorrer-nos... E é como se, no saldo final de todos os esforços, o que permanecesse não fosse nenhum de nós senão o próprio trapézio. Sempre balançando. Sempre sobre o vazio. E só...




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