quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Há cantos escuros no teatro. Não importa o quanto se repita um espetáculo, há, ainda assim, a permanência de instantes de profunda dúvida sobre o que é aquilo que está sendo dito diante dos espectadores. Às vezes, a dúvida aumenta na exata proporção das continuadas vezes em que o espetáculo é apresentado. Nessas ocasiões, é quase como se acostumássemos a não precisar entender mais nada para deixar-se conviver com a ideia de que não há como ter controle sobre nada. É como uma pedra que rola a ribanceira. Podemos dar o peteleco inicial, mas o restante é com a pedra, e a ribanceira. Às vezes, é essa a experiência mais profunda do teatro: um tingir de branco os desejos de tudo conhecer, agir e conduzir. E que é também, acredito eu, a experiência mais rica que a vida ela própria, longe das tábuas do teatro, também pode fazer-nos habitar. Ontem terminou uma temporada extensa de um espetáculo. E não é demagogia alguma dizer que a peça sempre me assombrou porque dela tinha (e ainda tenho) poucos recursos que me permitem qualquer ideia de segurança e domínio. O teatro é dessas coisas que duram pouco. E é bom que seja assim. Ninguém, imagino eu, daria conta de permanecer na corda bamba por longos intervalos sem sofrer uma baita queda. Um entupir-se de vida concentrada é sempre um prejuízo para a própria vida.



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