terça-feira, 29 de julho de 2014

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"(...) Paulo Pélico, vice-presidente da APTI (Associação dos Produtores de Teatro Independentes), diz que a combinação de trânsito caótico com violência urbana e crescimento de mídias como a TV a cabo afasta o público das salas de teatro. 'A pessoa não vai sair do trabalho às 18hs, ir para casa e depois ir ao teatro, onde tem que buscar lugar para estacionar, com a tentação de ver um DVD ou TV a cabo. É uma equação complicadíssima', diz (...)"

Um único argumento que desbanca todas essas hipóteses: A OSESP. A Sala SP fica no meio da cracolândia - nossa querida Faixa de Gaza - e vive lotada. Sou assinante há mais de 5 anos e frequentemente acompanho os concertos da orquestra do estado. O que é evidente para justificar o sucesso? Simples e translúcido: uma orquestra primorosa, de qualidade irretocável, com programas escolhidos com critério e semanalmente interpretados com rigor e excelência (músicos e maestros internacionais também participam desse revezamento); apoio público: a orquestra é financiada em grande parte pelo estado; os preços acessíveis: é mais barato, dependendo do setor escolhido, assistir a um concerto do que ver um espetáculo na FAAP, por exemplo...

E para quem acha que pisar os pés na Sala SP é coisa de aristocracia do café, mais uma mentira! A Sala SP tem sim as suas véias de laquê e sua turma da Oscar Freire, mas também vive lotada de estudantes e outras fatias nada abastadas da sociedade. Eu bato ponto por lá trajado de calça jeans, camiseta e tênis, não precisei comprar fraque nem cartola. A Fundação OSESP também executa programas sociais e gratuitos de apresentação da música erudita para alunos do ensino público, excursiona com os músicos em temporadas regulares pelo interior do estado, além de manter uma academia de formação de jovens músicos para serem aproveitados futuramente no seu corpo estável ou em outros conjuntos sinfônicos (todos com bolsa de estudo e recebendo aulas dos próprios músicos componentes da OSESP). Sem contar o quarteto de cordas, o coral lírico, a formação de câmara e as palestras gratuitas e abertas ao público sobre os compositores antes de cada concerto.

E o que acontece conosco, miseráveis e maltrapilhos do teatro?

1) Qualquer pobre diabo vira ator ou ganha o direito de subir ao palco por conta do seu charme ou olhos azuis, ou seja, a formação do ator não é coisa valorizada, ou melhor, e sendo mais claro, não vale patavinas! (ele prefere fazer a ponte aérea para a Globo do que frequentar uma universidade); ser ator é mais um estilo de vida do que uma profissão de ofício árduo e diário (veja se um músico não passa diariamente boas horas metido o nariz nas partituras)

2) O governo não está interessado em financiar uma Cia estável de repertório que pudesse seguir os mesmos moldes da OSESP, mais fácil é polvilhar umas gorjetas em forma de editais por aí,

3) Nós, atores com um tiquinho de consciência sobre a importância e dignidade do ofício, temos pouquíssima representatividade ou poder de decisão, já que fazemos qualquer negócio e debaixo de quaisquer condições para apresentar nosso suado trabalho, quase mendigando atenção.

4) Começam a fervilhar cursos ditos de 'interpretação e formação de atores' pelas esquinas (diferente dos universitários) que prometem um passaporte ligeiro e garantido ao estrelado, ou então imersões psicoterapêuticas nos moldes Fátima Toledo que dão conta de transformar a ideia de artista em médium espírita, ou entidade sensitiva do terreiro de santo da Bahia.

5) Resultado? A maioria das coisas que há por aí é de qualidade suspeita. O público é sábio - a culpa não é dele! - prefere ficar em casa vendo um DVD a dormir numa poltrona de teatro - Os espetáculos que ocorrem no SESC são quase sempre um oásis de exceção: bons elencos, diretores, dramaturgos... há conforto nas salas de apresentação, estacionamento, café, preços mais do que acessíveis (algo parecido com a Sala SP)

Enfim.... estive em cartaz com 'Ricardo III' em SP por duas curtíssimas temporadas que, juntas, não ultrapassam três meses de apresentações (sexta, sábado e domingo). Um texto clássico com equipe bacana e em teatros bem localizados. É simplesmente patético não poder permanecer com o trabalho por ao menos 1 ano ininterrupto de sessões semanais. Enquanto isso, 'O Rei Leão' (com todo o respeito às plumas e paetês) estoura em audiência.

Há várias misérias concorrendo: a cultural, a educacional, a institucional e a de infraestrutura...

Futuro para lá de sombrio... Enquanto isso, VIVA A OSESP!



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