Um ator que diz que aprende o seu ofício na prática se equipara aquele neurocirugião que opera cérebros para ao final da experiência ganhar o seu diploma de médico. É de um sintoma extremo da nossa mediocridade essa ideia de que o ator é intuitivo, criativo, iluminado (e bonito, claro!), e que suas benesses de profissional vão aflorando na medida em que ele realiza o seu trabalho diante do público. Aliás, um ator dessa estirpe é pior que o tal do neurocirugião charlatão. Porque no caso desse neurocirugião de araque a morte da cobaia pode ser instantânea - o que é uma batia sorte -, enquanto, no caso do dito ator em questão, o prejudicado desse tipo bastante especial de artista-dos-sentidos é uma massa de gente, e cada vez mais contaminada pela apatia de ideias, pela falta absoluta de expressão, de substância. No caso do ator charlatão, a morte é coletiva, e em banho-maria.
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