domingo, 20 de março de 2016

Havia pouco mais do que 15 pessoas. Botamos cadeiras no palco e fizemos o espetáculo. Para 15 pessoas. Elas estavam ali, ouvindo uma história. E nós estávamos ali também, diante daquelas pessoas, contando uma história. Todos no palco. Éramos poucos. Pouquíssimos. Não havia pirotecnia alguma preparada para maquiar com purpurinas, efeitos sonoros, apoteoses redentoras a precariedade concreta de ali haver um punhado mínimo de pessoas desejosas por ouvir uma história. E nós, tampouco - os contadores de história -, subimos a voz para compensar a pouca plateia que tínhamos, para convencê-la com nossos timbres graves de que éramos sim atores de grandes audiências, de porte superior, tarimbados pelo sucesso dos aplausos da cidade grande. Mas é justamente porque tudo era pobre, mínimo, sem qualquer recheio de pretensão do ego que fortalecemos na marra um sentido ético da comunicação estética que parece nos faltar nos dias atuais: é grave, gravíssimo chamar a atenção de alguém para defender uma ideia publicamente. E é pela gravidade da circunstância que a ideia defendida deve ser cuidada, pensada, ponderada. Porque uma ideia frouxa é uma ideia perigosa. E uma vez que a poesia é dada a convencimentos, uma frouxidão de uma ideia pode ser perfeitamente absorvida como algo bom, belo, sem consequências imediatas para o que essa mesma ideia capenga pode significar enquanto comportamento fora do teatro. Porque há política no ato de subir ao palco. E se é verdade que o palco tem em sua natureza expressiva a maravilhosa alforria da tarefa de consertar o mundo, é igualmente verdade que ele carrega consigo a maravilhosa capacidade de piorá-lo. Aquelas pessoas de hoje eram poucas, pouquíssimas. E tão assustadoramente próximas de nós. Tudo isso nos dava medo. Medo da responsabilidade de ser ator. Da difícil tarefa que é essa: a de contar uma história.

A maior corrupção que um ator dos dias atuais pode praticar é essa: a distância de sua plateia. E se a nossa principal referência de atuação são as novelas da televisão mediadas pela segurança da tela da televisão, parece-me, então, não ser a toa que nós, atores, sejamos também - e principalmente - a extensão imediata desse vazio de substância intelectual, gente mimada, histérica e vaidosa, razão e motivo da crise ética e política que aí está.



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