terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Teatro é simples, simplérrimo. A sua dificuldade é essa: de tão simples, não compreende métodos, resolve-se na experiência imediata de se jogar diante de uma plateia e cumprir com a monumental tarefa de não deixá-la cair no sono, de fazer com que um mero entre-ato forjado artificialmente pela teimosia de alguém seja mais interessante que a vida. Viu como é simples? Teatro é a tarefa de tentar ser mais interessante que a vida sem fazer com que a plateia ronque a plenos pulmões. Tudo o que proponha qualquer tipo de esquematização para explicar, teorizar, mapear o trabalho do ator é um passaporte direto para complicar o que nasceu explicitamente fácil de se compreender. O que não significa, evidentemente, facilidade em se executar o combinado. Mas reparem só na chatice danada, no infrutífero objetivo que paira no esforço hercúleo de fazer do ator (ou da personagem - o que é ainda pior) um troço complexo, pluridimensional, cheio de idas e vindas, cores e espectros infinitos de desejos, emoções, pensamentos, vontades e contra-vontades e afins. Ai que chatice e que tristeza ser obrigado a fugir da maravilhosa crueza precária que é atirar-se numa corda bamba para caminhar aos tropeços e perigos de queda até a segurança do lado oposto. Fazer do teatro (do ator e da personagem) essa incrível rede de teorias e práticas e moldes e métodos e princípios e etc é o mesmo que diante duma bela paisagem o fulano resolver abrir um caderninho de notas para confirmar a composição da fórmula da pólvora. Encha os benditos pulmões e aperte os olhinhos para o horizonte, ÓH CÉUS!


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