segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Se o teatro fosse uma orquestra, duvido que ao ator coubesse o papel de spalla. Regente? Muito menos. Quem dirige o teatro é a cena, não o ator. No máximo ele estaria lá, misturado no meio da fanfarra, com um olho atento à partitura, o outro olho no maestro. Toda grande interpretação de qualquer ator é fruto de uma boa arquitetura da cena. E cena quer dizer tudo: espaço, cenário, figurino, música, maquiagem, luz... Não se sobrevive debaixo do refletor sem um edifício erguido para sustentar quem no palco se arrisca. E esse edifício pode perfeitamente ser todo vazado: não haver nada, e ainda assim será a maior força a agir sobre o ator. Acredito mais em encenadores do que em diretores. O bom diretor é um bom encenador. Não sendo um bom encenador, dificilmente ocorrerá de saber dirigir qualquer coisa. O erro é deduzir que o ator é protagonista porque é dele que emana essa coisa de 'viver' a personagem, e nisso gasta-se um tempo enorme, tentando dar conta de uma coisa que não existe e jamais existirá. Um palco de madeira existe. Um tecido existe. Um acorde é palpável e tangível. Hamlet não. Hamlet é assunto para a plateia, não para o ator que o finge ser. Para o ator que representa Hamlet, saber apanhar um punhal é tratar de Hamlet mais do que tentar viver Hamlet. Acho um pleonasmo dizer que o teatro é um arte coletiva. Ou melhor, acho um erro mesmo, porque por 'coletivo' quase sempre se pressupõe igualdade de territórios. Não acho. Acho que há hierarquias bastante claras. E o ator nunca é o sortudo que tem a rapadura nas mãos. Ele é mais vítima do que herói, sempre. E para seu próprio benefício.


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