segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

... "(...) finge que é dor a dor que deveras sente" é verso lapidar. É dizer que representar é potencializar o sentir. Mas não o sentir da dor genuína, que pelo fingimento é filtrada - e só porque filtrada é que pode ser representada. É o sentir da inteligência. A dor que de tão genuína para ser fingida como verdadeira recebe o direito de mergulhar para o centro, não onde fica o coração, mas muito mais profundo que isso: lá de onde articulamos a inteligência. Há dor mais profunda que a de pensar? O artista age pela inteligência, que é o principal e mais poderoso músculo do sentir.

Fernando Pessoa é o maior dos teóricos da arte de representar. Ultrapassa a todos porque está sempre nas entrelinhas, no lusco-fusco, entre a sombra dos bastidores e a luz escaldante dos refletores. Que é a mesma condição do ator: que só é ator porque não nega o vão que existe entre seu rosto e a máscara que ostenta.


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