quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Personagem não 'se constrói', personagem já existe construída. O esforço é não destruí-la achando que é tarefa sua dar existência ao que já nasceu existindo. Repare que todas as vezes em que o ator diz haver 'construído' a personagem quem aparece é o ator, nunca a personagem 'construída'. A personagem aparece em primeiro plano quando o ator não perde tempo em se referir a ela, quando o ator sabe que é inútil acreditar que há uma personagem construída fruto de seu esforço íntimo e particular. Mas isso diz respeito às boas personagens e aos bons atores, evidentemente. Há um contingente gigantesco de péssimas personagens e péssimos atores que firmam exatamente essa parceria desastrosa: por um lado a personagem exige do ator o seu direito de existência como se fosse um protótipo de criança mimada, por outro, o ator crê piamente que é tarefa sua tomar para si as dores dessa mesma personagem carente de vida.

Adoraria ser uma mosca para testemunhar o que Hamlet faria com um desses atores tarimbados na geração da lágrima dramática, os mesmos atores que acreditam que representar é viver ou dar direito de vida à personagem.

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