sexta-feira, 12 de maio de 2017

Para você que faz teatro, os tempos contemporâneos são uma dádiva e uma desgraça, tudo junto e misturado. A máscara que se destaca do rosto revela um péssimo ator, ou será a máscara que é péssima e não sustenta o esforço de seu intérprete em torná-la dramática? Ou, talvez, a máscara é tão colada à face que se confunde com ela..., mas aí já não haveria teatro possível, porque teatro, a rigor, é sempre farsa, ou nem sempre? Quem concorre com quem: ator com a personagem, ou a personagem com o ator? Numa encruzilhada Machadiana, Shakespeariana, Pirandelliana, Nelson Rodrigueana, o que sobra é uma comédiazinha de gabinete, nos moldes do Martins Pena, que é outro mestre de estatura semelhante dos autores citados. Eis, portanto, a maravilha e a desgraça: subimos ao palco na ideia de que estamos a encenar uma peça realista, dessas de quarta parede, dessas que saem fumacinha do bule e tem lustre de cristal pendurado no teto, mas tão logo abrimos a boca a prosódia se torna desafinada, os trajes são curtos demais, as tábuas do chão rangem ao serem pisadas. A farsa, o faz de conta, sobrevive ao desejo fundamental de querermos fazer a personagem moralizadora. A plateia boceja e ri quando não deveria rir. As luzes dos refletores piscam. Uma mosca não ensaiada insiste em rondar o nariz de quem tem o foco das atenções. 
A maravilha é o teatro, que sobrevive maravilhosamente como teatro. A desgraça é o ator, que volta para o camarim todo emocionado, achando que o protagonista de qualquer coisa é ele.


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