domingo, 14 de maio de 2017

Acho que a atitude política do teatro está no fato de que, noite após noite, o ator ter de subir às tábuas para fazer teatro. E depois ter de descer das mesmas tábuas. E sentir na carne esse intervalo que confunde o estar iluminado com o esconder-se nas sombras. A atitude política do teatro é o próprio teatro sendo feito e desfeito. E se hoje o ator já não faz mais tanto teatro, é também por essa razão que rareiam os artistas que agem politicamente. O nosso prefeito que diz não ser político é a semelhança perfeita daquele ator que não é ator - mas se diz ator! - e vive da sua imagem de ator. E vive bem, muitas vezes como símbolo de excelência, ícone a ser idolatrado e seguido por séquitos de admiradores. Porque nós, enquanto plateia, também aprendemos bastante bem o que é engolir mentiras e saboreá-las como o mais fino repasto do mais requintado dos restaurantes. Não tenho escrúpulos nenhum em dizer que a televisão e a sua redoma implacável de proteção à beleza do ator é o instrumento mais imbecilizador e alienador que explica a razão pela qual somos hoje tão espetacularmente preguiçosos, rasos em matéria de ideias e sensibilidade.

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