quinta-feira, 13 de outubro de 2016

No teatro, uma das funções mais nobres está com aquele sujeito que abre e fecha a cortina do palco. Sem demagogia nenhuma, considero ele, o cortineiro, uma figura tão importante quanto o ator. Aliás, acho ele, o cortineiro, mais importante que o ator. Abrir e fechar uma cortina é o mesmo que abrir e fechar uma caixinha de música. Há que se ter técnica e sensibilidade para isso. E o ator é refém desse procedimento. Como a bailarina que está dentro da caixinha de música, nada há o que fazer se não houver quem dê visibilidade ao que habita o silêncio das sombras. E ainda por cima, o cortineiro tem a deslumbrante vantagem de ser invisível por completo, esforço pelo qual o ator também reúne esforços, mas nem sempre alcança sucesso. Um ator visível é sempre um péssimo ator. Antes de começar o espetáculo, observo admirado e com admiração esse sujeito que se esconde nos bastidores, pronto para acionar um botão que fará a cortina se abrir e me expor à arena dos leões, e sem reservar qualquer piedade por mim.
Penso ser um crime um teatro eliminar o uso da cortina, dispensar o serviço valiosíssimo do cortineiro. Se entro numa sala de espetáculos na condição de espectador e vejo o palco sem a proteção da cortina, então sinto uma dor no peito duas vezes: a primeira por quebrarem-me o mistério de descobrir o que há por trás da cortina, e depois por saber que não há cortineiro algum que me faça imaginar o instante exato em que ele acionará o mecanismo que tanto me ilumina de encanto os olhos e a alma.


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