segunda-feira, 6 de junho de 2016

Concentro em mim um pavor misturado com raiva mortal por quem diz que é no teatro que o ator 'se alimenta'. Como se o teatro fosse um refeitório, um lugar de idílio, de bonanças apetitosas e sedutoras, espécie de trampolim para sabe-se lá quais ares rarefeitos. Normalmente são turistas do teatro os que dizem isso, que relação nenhuma tem com o teatro, que pouco ou quase nada se interessam por teatro, que mentem descaradamente quando dizem que o teatro é o lugar deles, ou, ainda, que usam a grife de 'arte' que o teatro naturalmente estampa para uma autopromoção travestida de dedicação e suor ao ofício. Tudo balela. Teatro é outro departamento, nada afeito às idiossincrasias de quem é afetado pela ideia do que é ser ator de teatro sem sequer ter consciência do que é ser ator de teatro, ou mesmo saber o que é o teatro. Teatro é muito mais um lugar de esgotamento, de cansaço completo e total, lugar onde a energia é drenada feito sangria. Teatro não é pretexto para fazer brilhar os olhinhos de gente deslumbrada e maquiada pelo fino pó da fama e da imagem. Teatro é terreno de suicídios diários, voluntários e milimetricamente calculados.

Uma dica: vão todos lavar a louça da pia, e depois conversamos.



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