domingo, 19 de junho de 2016

Alguém bateu na porta. Alguém já não bate mais na porta. Não é fantástico que alguém bata na porta e depois deixe de bater na porta? Se é verdade que as coisas têm um início e uma duração orientada para um fim, também é verdade que algumas coisas têm um fim mais breve que outras, uma duração mais breve que outras. Gosto dessas coisas fadadas à extinção iminente. São quase sempre coisas pequenas, condenadas à nossa desatenção. Preferimos quase sempre aquelas coisas condenadas a uma eternidade mentirosa, sem dimensão exata. Eu não. Eu gosto de saber que logo logo tudo irá silenciar. Um telefone que toca logo irá parar de tocar. Um aceno de mão dura pouquíssimo. Por isso que gosto do ator de teatro. Ele entra em cena para dar início a uma contagem regressiva. O ator de teatro só entra em cena porque sabe que logo logo tudo irá acabar. Ele próprio irá despedir-se daquilo que faz. Faz por breves instantes o que tem que fazer e pronto, acabou. O teatro só é teatro porque dura pouco, pouquíssimo. Quanta diferença para o ator de televisão, ou o ator da imagem. Eternamente condenado a existir tantas e quantas vezes quiserem que ele exista. O que dura pouco e morre rápido concentra em si um potencial vital desconhecido por tudo aquilo que teima em durar demais. Um pedaço de sinfonia é mais revelador da poesia da vida do que a própria vida em suas poesias intermináveis e naturais. O riscar de um fósforo tem mais energia acumulada que a lava que escorre do vulcão sem prazo para parar de escorrer. 
É isso. Pronto. Fim.


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