Senhores, saiam às ruas e vejam como a cidade já retoma
aquele ritmo só seu de cavalo de batalha dos esquizofrênicos, cada qual
trancafiado ora dentro do seu utilitário de quatro rodas, ora compartilhando o
sovaco alheio dentro do coletivo barulhento que mais parece carroceria de
caminhão de cana. Vejam senhores como a fila do self-service enfileira
novamente aquela matilha de executivos enforcados por gravatas de linho de
seda, todos efusivos por bater o cartão em suas rotinas miseráveis de subserviência
à simpatia do chefe de cabelo engomado, não sem antes engordurarem-se com os
repastos daquela refeição comandada por tic-tacs invariáveis. Vejam senhores
como somos todos tarimbados para o exercício da utilidade, ansiosos por somar
um mais um é igual a dois, atentos às demandas daquilo que quando cumprido não
altera em absolutamente nada a miséria a qual optamos por corroborar com o suor
que nos cabe. Vejam senhores como os vapores de enxofre do progresso sobem aos
céus indicando que estamos na ativa. Observem, senhores, a tez enrugada daqueles
que anônimos formam a massa de trabalhadores, respeitabilíssimos, é verdade,
para contribuir ao sem sentido que desde pequerruchos fomos habituados a louvar.
Lembro-me de meu pai rendendo elogios à natureza labutal desse nosso povo que
logo às cinco da matina, antes mesmo do galo entrar no batente, já está de pé
para a sua ladainha de marchadores do ofício diário. Pois até hoje, já crescido
que estou, nunca percebi qualquer vantagem em frequentar a curta existência
nesse entreato cujas olheiras são as únicas a virarem protagonistas. Vejam,
senhores, como gostamos de reuniões de negócios, ligações telefônicas, trocas
de documentos e e-mails corporativos, tudo para fazer a manutenção daquilo que
já está, como se precisássemos olhar o tempo inteiro ao espelho e dizer: muito
bem, continuo sendo quem sou, ainda que para isso seja preciso fingir uma
infinidade de máscaras patéticas. Ah, senhores... por que raios a copa do mundo
é coisa que não dura? Talvez justamente por essa razão: o que realmente importa
é o que morre cedo, sem direito algum de permanência. Ainda se pudéssemos
praticar essa regra, sabendo que também condenados somos ao esquecimento eterno.
Mas alguma coisa nos diz: seja útil! Cumpra com o seu dever de deixar algum
legado a ser erigido em forma de estátua para que os seus semelhantes aplaudam!
Ah... quem dera o mundo inteiro fosse um enorme campo
gramado de futebol!
...
...
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