domingo, 29 de junho de 2014

#

Repare! Nenhum dos grandes - sejam eles dramaturgos, atores, pintores, músicos, dançarinos -, trata do homem como objeto íntimo, recheado de interioridade particular de forma a fazer do sentimento a razão da obra. Todos os artistas exemplares entendem claramente que a arte grande é aquela que trabalha no campo do ideal, do extraordinário, da máscara como emblema do impossível, do absurdo talhado pelo jogo lúdico, enfim, de tudo o que foge dessa nossa geração de lacrimejadores ambulantes. Nossa perda de sentido ético e político não está no desinteresse sobre a ética e a política, mas na insistência em se sentir tudo, em chorar para tudo, em se colocar como imagem perfeita de um organismo vitimado e sofrido, disposto a afetar-se por tudo dentro do seu círculo reduzido de relações. O que nos torna hoje medíocres é justamente o desejo de fazer do sentimento o argumento que antes pertencia à força poética da palavra, do som, das cores, da fábula heróica, elementos de porte maior, muito superior a qualquer ímpeto melodramático de chupar o dedo e mostrar aos outros o fruto de tão ousada ação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário