quinta-feira, 7 de setembro de 2017

No fundo da alma somos todos músicos frustrados. Nossa expressão é a tentativa de retornar a um ritmo, a dar cor a uma melodia, a raspar a composição de um movimento. Jogamos fora as palavras para saber se o que sobra por debaixo do verbo é alguma música esquecida, herdeira imediata do pulso que bate em nosso peito. Nietzsche estava certo, a origem da nossa tragédia é musical, e abrir mão da música é correr atrás da música que se perdeu ao abrirmos mão dela. Os grandes poetas só são grandes poetas porque desperdiçam palavras em favor do que sobra delas. Os grandes escritores e dramaturgos são exímios regentes de notas musicais numa partitura espelhada pelos contornos das letras no papel. Os bons atores sabem perfeitamente que o texto que cabe a eles são argumentos para que se cante o que existe como fundamento da personagem. A boa personagem, aliás, pouco se interessa em comunicar uma ideia tal qual a comunicamos quando queremos ser entendidos. A boa personagem nunca se faz entendida. A boa personagem se faz ouvida. No fundo da alma somos isso mesmo: loucos aspirantes para formar naipe em alguma orquestra que se encaixe ao desejo nosso de nada dizer.


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