segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Acho que quem deseja ser ator deveria pensar em tudo, exceto em ser ator. Não é uma brincadeira semântica não. É uma forte intuição. Não que não haja aí qualquer esforço de formação que o candidato a ator tenha que frequentar para se tornar ator. Muito ao contrário. Ator nenhum é ator sem formação para que seja ator. Digo da ideia da coisa associada à execução da mesma coisa. A questão é a que serve se preencher da ideia de que se é ator, ou entrar em cena com essa responsabilidade completamente abstrata que é ter de 'ser' um outro alguém? Acho que não serve para coisa nenhuma, ou então, pior ainda, serve para elevar o tal do ator a um status mentiroso (e de importância) que ele nunca tem. Essa coisa de viver as emoções da personagem me parece um diagnóstico desse ego desmesurado. Ator nenhum vive emoção de personagem nenhuma, me parece. Ator é muito mais parecido com um peão de obra que leva e traz materiais de construção, empilha tijolos e ergue paredes. E é só por isso que a personagem aparece, porque o ator desiste de ser ator e fazer da personagem algo com que tenha de se ocupar. Nesse sentido, acho que o ator deveria ser para si próprio, e para o mundo que cria, um dançarino, ou um músico. Nunca ator. Dançar um espaço, tocar a melodia que há no espaço, isso sim, são atitudes destituídas desse falso glamour que ronda a figura do ator. Porque dançar e tocar exigem corpo. E é só isso que o ator precisa ter para ser ator: corpo. Um corpo que existe - que está lá de fato existindo aos nossos olhos - é um corpo certamente preenchido de espiritualidade, de conteúdo. É isso! Ser ator é muito mais existir do que ser ator. O esforço é para o mundo, nunca para si mesmo.


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