segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Antes desperdiçar que acumular... Fazer teatro dá substância a essa filosofia. A matéria bruta do nosso esforço é desperdiçada noite após noite, jogada fora, inutilizada depois de erguida. O que sobra é o dever de voltar e fazer de novo, e sem qualquer promessa de sucesso. Somos desperdiçadores profissionais. O trabalho que nos cabe é conviver com o vazio absoluto de nada poder reter. A imagem do ator de teatro é translúcida, espectral, de contornos imprecisos. Esse talento para o sumiço, para o desapego a qualquer espécie de reputação, currículo prévio ou fama catapultada por dispositivos eternizadores da nossa imagem, é tudo isso o que confere a nós, aos atores de teatro, o importantíssimo privilégio de exercer uma inteligência sem intermediários, sem haver temeridade com o que podemos destruir ou construir com o nosso olhar. Se é o instante que vale, é ele, o instante, a jóia rara que aguça uma percepção do que de fato está a acontecer, dentro e fora do teatro. Se vestimos figurinos para inventar o que não somos, é só porque os desvestimos depois para voltar a ser alguém que mal desconfiamos que somos. Estamos no intervalo. Vazios. Sem garantias de salvação ou perspectivas de horizontes esperançosos.


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