sexta-feira, 7 de julho de 2017

Pode tudo no palco e igualmente pode tudo na plateia. O que não pode é a gente do palco medir o discurso pelo julgamento de quem está na plateia. Interromper um espetáculo não me parece grave. Grave é o espetáculo deixar de ocorrer nos dias subsequentes porque houve na plateia quem o interrompesse. Se a plateia, ou parte dela, tem o total direito de se manifestar pela não aceitação do espetáculo, por que quem está no palco baixa a guarda e diz: perfeitamente, o espetáculo deixará de ocorrer? Ainda que isso seja possível, que os artistas da cena entendam por bem não levar adiante o trabalho (a resposta da plateia me parece sempre uma justa medida do real sentido daquilo que o ator faz debaixo do refletor), o perigo que se cria é muito maior do que essa aparente troca civilizada de vozes: é haver uma jurisdição anterior a qualquer exercício poético, espécie de tribunal prévio a que o artista deve necessariamente se submeter para que possa ele exercer o seu ofício de expressão. E já há precedentes que indicam que isso anda ocorrendo. Eu não fico tão indignado com o comportamento de parte da plateia que interrompe um espetáculo (mesmo que essa interrupção implique, para mim, numa espécie bastante evidente de burrice para aquilo que significa a cena num palco ou espaço teatral), mas fico furioso com nossa própria turma, que recebe uma pancada dessas e se cala, ou pior, abre as portas de casa e monta uma mesa de chá para se discutir uma infinidade de questões, dessas questões que poderiam perfeitamente ser discutidas numa assembléia legislativa. Acho eu que transformar o teatro numa assembléia legislativa é, no mínimo, de uma pobreza de imaginação e de criatividade que se compara a abrir um brinquedo e passar mais tempo lendo as instruções do que descobrindo como se brinca.
Daqui a pouco iremos demitir o pobre do Dionísio e tomar o lugar daquela senhora vendada (ou não?) que segura aquela balança enferrujada com uma das mãos, e uma espada torta na outra. De minha parte, prefiro ser completamente louco a um arauto da justiça de qualquer um.


...


...

Nenhum comentário:

Postar um comentário