segunda-feira, 10 de julho de 2017

Elogio à mentira!
Tudo o que me acontece é motivo dramático, mas só porque eu aumento 100 vezes o que me aconteceu, ou diminuo outras tantas 1000 vezes o que era, no princípio, um fato real. A vida não me interessa nem um pouco, ela é, por mérito ou defeito de nascença, chata e previsível até a raiz da medula. Meu depoimento pessoal não interessa a mim e nem a ninguém que possa vir a ouvi-lo. O que interessa é o quão habilidoso eu sou para deturpar o que é comum a mim e a todos. Eu estico ou contorço a massa, ou as duas coisas. São as formas criadas que fazem brilhar meus olhos, nunca a substância da coisa em si. Agindo assim, a minha personalidade, aquilo que é íntimo meu, desaparece em função de uma máscara especialmente forjada. O mentiroso não é tanto um fabulador original quanto um hábil dissimulador daquilo que existe. Sou desses. A vida só me faz sentido se dela puder extrair esse substrato de aspecto moldável. E procedo dessa forma também por uma vaidade latente que faço questão de preservar: a de me esconder por detrás das falcatruas que conto para vislumbrar se você, que não as conhece, cai na armadilha.


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