quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Teatro tem que ser difícil, quase impossível.
Porque tudo o que é misterioso é intrincado, dificílimo.
E se não há mistério não há teatro. O bom teatro, ao menos.
A criança já nasce gostando do impossível.
O princípio das brincadeiras da criança parte daquilo que é inimaginável.
De difícil apreensão. O jogo é sempre difícil. O bom jogo, ao menos.
Nós, adultos, é que nos tornamos idiotas ao querer compreender tudo.
Ao querer facilitar tudo para que tudo seja compreendido.
Teatro tem pouquíssimo a ver com a intelecção do que quer que seja.
Os grandes poetas dramáticos são antes magos que comunicadores.
Teatro nenhum deveria preocupar-se em fazer com que a plateia entenda coisa alguma.
Deveria, ao contrário, convidá-la a perder-se na dificuldade do mistério.
As palavras que sobem ao palco deveriam ser dificílimas de se pronunciar.
Os gestos todos deveriam ser antinaturais.
Cada passo um tremendo esforço para se cumprir.
E se, ao cabo de tudo, ninguém entender patavinas nenhuma.
Ponto para o teatro.
Que cumpriu com o seu sagrado dever.
O bom teatro, ao menos.



...




...

Nenhum comentário:

Postar um comentário